sábado, 4 de dezembro de 2010

Tinha umArrocha no meio no caminho

É compreensível todo o desespero. Inaceitável é o despreparo para lidar com ele. Simpósio. Mostra científica. Mestre Alexandre explanando seus assuntos. Eis que de um pedaço de papel, um texto de que parecia ter sido feito por um infante dislexico despertou meu sentimento irascível e visceral. Para a "supressa" dos presentes no auditório. A nota, escrita pelo "jornalista" Joãozinho Cézar em parceria com o pseudo-vereador Zé do Crea e seu aspone James fulano de tal, escarnecia da nomeação do Jornal do curso de Comunicação Social, Arrocha. Diziam na publicação, de forma infantil e com uma graça comparável aos programas humorísticos da Globo, que a escolha do nome seria uma alusão ao cantor Stênio, insinuando ainda que o jornal seria patrocinado pelo cantor, além de acusar a "falta de cultura" dos que fazem o Arrocha. "Escolha muito péssima", como a habilidade de escrita do Sr. Cézar. Aconselharia-os a pelo menos ler o mínimo possível do editorial. O termo escolhido para o batismo do impresso foi estudado e escolhido mediante a semântica do verbete. Arrocha significa um aperto, uma imprensada, uma estocada seja no senso crítico ou no brio dos que se julgam imprescindíveis e intocáveis por aqui. O título remete também a algo inabalável, firme, " A Rocha", como a pedra dentro dos sapatos dos vigaristas a lhes esfolar os pés, causando estrago quando jogada contra as vidraças do orgulho, propagando as ondas de indignação social no lago sujo, de águas turvas da ignorância programada e mantida pelo sistema. De fato, o jornal está aqui pra arrochar os nós contra os pescoços displicentes. Estamos aqui pra vermos tremerem os que não se garantem, os que fazem um serviço porco sem embasamento ou comprometimento com a verdade. Mas lembrei-me do fato de que, pra ser hoje um "jornalista" ou "vereador" nesta cidade, qualquer semi-analfabeto com o mínimo de cara de pau e alguns tantos conchavos sujos são o bastante. Interpretação, talvez seja o que esteja em falta. Nunca foi de minha parte desmerecer o trabalho dos pioneiros jornalistas, até porque se o pouco que temos hoje é por esforço e raça de quem esteve dantes a lutar até o presente. Entretanto, existem aqueles que, ao não confiar em seu trabalho convalescente, acabam por tentar ferir a honra de quem está fazendo a pouco tempo, de forma pelo menos honesta e respeitosa, um serviço que se atém à promessa inata feita com a sociedade de levar a cidade e sua história pra dentro das cabeças, casas e almas monárquicas que aqui residem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A raiva me roubou do leito

Depois de parado por tanto tempo, tudo o que eu tenho hoje é um caderno meio velho, com versos meio velhos nas páginas últimas, onde minha verve se encharca de raiva. O perfume vertido de meus angustiados dedos agridem as narinas líricas e críticas, se é que ainda existem neste antro de insensibilidade em meio a macacos repetidores de clichês taquiloquentes. Nunca eu quis tanto colocar mordaças no cotovelos insossos das mulas "pós-moderninhas". Eu só não vomito porque quase não me alimento mais. E, antes que digam que voltei, eu vos digo que nunca fui, quiçá nunca existí. Voltei porque o jeito que a tristeza me invadiu foi desrespeitoso e avassalador, e agora acabou-se o sossego. Me volto às palavras com o intuito de expurgar demônios antigos gritando dentro da minha cabeça com a calma exterior aparente de um canceriano. Lacaios ignotos e ensoberbecidos de seus feitos sentirão o rasgar de minha pena nas suas peles mimadas com cremes hidratantes. Cérebros cegos e com a síndrome vigente de insipidez absorvida de seus pais republicanos e facistas, crianças de prédio vestidas de medo e pseudocultura rasa, ideologias baratas e fracas das pernas vao se bulir pra fugir, de novo. É você! É de tí mesmo que eu falo, você que me olha de baixo, sentado, levando no rabo sem perceber, e gostando. Subserviente à minha vontade, a zuada voltou, agora amplificada, com um baque mais duro, e com raiva de ti.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Um anjo , sabe?

Sabe como é um anjo meu senhor?
Bom , eu também não sei saber. Mas , eu sei como o meu deve ser , porque é exatamente assim que ela é.
Ela deve ter graça , aquela dela que não é forçada . Os olhos cansados e vermelhos de sono depois das dez da noite .
Deve ser cheirosa o dia todo , a noite inteira , mesmo molhada , de chuva , suor e paixão que flui de corpos tão próximos um do outro em um carro às três da manhã. Deve ter , por mais que pareça estranho , o beijo mais cheiroso.
Sim , porque seu hálito é bálsamo. E ele me faz louco.
Deve ser leve , querendo pisar no chão sem conseguir.
Deve ser linda sem se esforçar , porque ela não conseguer ser de outro jeito , a não ser linda , de uma beleza diferente , porque era assim que tinha que ser.
Tem que ser Ela , porque sendo outra pessoa , a história seria incongruente e consequentemente ruim.
Não podia , em hipótese alguma ser outra. Deve ser minha mesmo demorando muito. E deve me amar depois de cinco anos tentando mostrar que tudo que ela precisava e procurava estava a umas quatro filas de carteiras à direita. Sempre esteve.
Ela deve ser forte,como quem chora de medo e tem medo de chorar. Deve me deixar impotente diante da sua força e me deixar irritado com os entraves.
Não pode ter porque , só tem que acontecer e não explicar. Me fazer sentir como a flor, que luta contra a faca e perde.
Pois perdido estou eu . Nos cabelos dela , encaracolados , como no estereótipo capilar dos anjos presente nas nossas constantes construções. Até o seu nome é próprio de anjo.
Deve dever me amar. Mas não. Não me ama por dever. Doravante me ama deveras,severamente visceral.
Deve me dizer que sou mais bonito que o namorado dela. E não deveria saber que me cortava a alma a proferir isto. Quando o que eu mais queria era ser namorado feio. Velejando nas idéias. Valente como leoa. Voz nos meus ouvidos, vórtice voraz , vilipendiando as visitas , varando válvuvas , abrindo vereda no coração vil.
Vilã amada como Alá no ramadã.
A que , sem querer , transforma o Cavalheiro Cínico , retira o Canalha , e reintera o poeta ao lugar que lhe pertence. Presunção minha pensar ser poeta. Mas me pego sendo poeta quando ela me olha, com os olhos de anjo bêbado.
E eu , que gritava o ódio e festejava a raiva de ser um natimorto , voltei à vida depois de morrer algumas vezes.
A dor , meu senhor. Isso era o de menos. Eu me cortava, me queimava com cigarros , a fim de me esquecer da alma sangrando. Só conseguí me marcar pra lembrar do sofrimento.

Mas , é próprio dos anjos serem sagrados. E esta , é irrefutávelmente sacra. Pura , como a cachaça que estereliza as gargantas e endurece as carapaças dos homens vermelhos e opacos da terra rachada.

E , meu senhor, eu peço perdão.

Ao tentar descrever o anjo , falei da mulher suprema. Mas , foda-se.
Ela é o único e mais lindo anjo que eu conheço. E , sinceramente me basta.
Os outros anjos se parecem cada vez mais menores se comparados a Ela.

E , sobre aquela história de os anjos não terem sexo. Isso não é a maior besteira que vocês já ouviram??



Epílogo de Contos Desequilibrados À Alcool e Livros , de Paulo.





Te amo , meu amor que me salvou.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sangue de bairro

Na manhã de terça-feira, 19 de janeiro, peguei o ônibus no ponto em frente à UFMA rumo ao parque anhanguera, trabalho da faculdade. Não estava cheio ainda, não até chegar ao terminal de integração. Chegando lá, embarcaram cerca de 13 pessoas entre crianças, idosos, mulheres, trabalhadores, operários, a hemoglobina da monarca que é a cidade. O veículo rangia, balançava, parecia vivo por dentro e por fora, pulsando, sangrando diesel e respirando fumaça. Aos poucos, foi se enchendo de mais e mais gente . Gente grande, gente pouco pequena, gente enorme, gente humilde, gente suor, gente atrasada, gente trabalho. O motorista, que não transparecia qualquer simpatia, talvez já se encontrara endurecido de tanto rodar pela cidade, nada falou quando uma senhora entrou reclamando que ele não parou o ônibus quando ela acenou com o braço cansado. Fui seguindo, sentado em meu lugar conquistado cedo com a face colada à janela, tão perto que minha respiração embaçava o vidro. Fui olhando, observando a cidade orgânica e viva, fluindo pela aorta chamada Dorgival Pinheiro de Souza, entrecortando as ruas ainda pavimentadas do centro até a via Dom Pedro I onde ao longo desta vi mais da minha gente. Crianças vivendo sua inocência de rua e poucas roupas, com rostos sujos e felizes de bola, pipa e peteca. Vi os que viram. Os que construíram a saga da cidade e hoje, sentados em frente de casa, tricotam a vida de outros, pois as suas parecem não ter mais nada pra acrescentar, a não ser o fim irremediável. Vi os que têm a responsabilidade de sustentar a família e manter a cidade inconsciente deste segundo fato. O ônibus seguia indo ao longo da rua e, fora dele, o mundo parece andar mais rápido. Bares e tavernas, gente entrando e saindo, o velho empurrando o carrinho de verdura, com panturrilhas grossas de andada que destoavam do seu corpo mirrado. Adiante vi uma ponte de concreto sobre um riacho sujo e quase inexistente, com palafitas de anos junto ao mato que resiste. Jovens com uniformes verdes e livros em braços indo para a escola, caçambas carregadas de barro e tijolos saindo da cerâmica cujas chaminés soltam a fumaça negra que pinta o rosto dos oleiros em cima do carro. Mais a frente, o progresso que transforma um terreno alagado, onde me fui ainda menino apanhar azeitona preta, em alicerces de prédios residenciais. No caminho ainda, uma faculdade particular, uma creche lotada, uma penitenciária mais lotada que a creche, lotada com mulheres, filhos e pais de detentos à porta para estrangular sua saudade em tempo cronometrado. A estação de água, o esqueleto de uma igreja, casas simples como seus moradores, ruas vermelhas de poeira e lama . Pedreiros, vendedores, jovens capinando o dinheiro pouco .
Desci do ônibus, senti o sol queimar minha testa . Andei uns metros e cheguei em casa. Mas nunca tinha escrito tanto sobre um lugar que conheço tão bem . E não sabia que conhecia tanto meu lugar, minhas pessoas, minhas poças d’água, meus terrenos baldios,meu pés de Jorge Tadeu e mangueiras cujos cimos me viram comer as mangas verdes com sal, meus prédios e casas. E não sabia que escreveria sobre eles aqui.Nem sabia que escreveria sobre eles/isto/eus.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

e , este é ...

o primeiro do ano.
Demorou .
Doravante apenas , pra constar a entrada do novo.
Sinto desapontá-los. Não.
E ainda cínico.


Paulo , d'O Cancioneiro do Cínico Cavalheiro... e canalha.