domingo, 24 de janeiro de 2010

Um anjo , sabe?

Sabe como é um anjo meu senhor?
Bom , eu também não sei saber. Mas , eu sei como o meu deve ser , porque é exatamente assim que ela é.
Ela deve ter graça , aquela dela que não é forçada . Os olhos cansados e vermelhos de sono depois das dez da noite .
Deve ser cheirosa o dia todo , a noite inteira , mesmo molhada , de chuva , suor e paixão que flui de corpos tão próximos um do outro em um carro às três da manhã. Deve ter , por mais que pareça estranho , o beijo mais cheiroso.
Sim , porque seu hálito é bálsamo. E ele me faz louco.
Deve ser leve , querendo pisar no chão sem conseguir.
Deve ser linda sem se esforçar , porque ela não conseguer ser de outro jeito , a não ser linda , de uma beleza diferente , porque era assim que tinha que ser.
Tem que ser Ela , porque sendo outra pessoa , a história seria incongruente e consequentemente ruim.
Não podia , em hipótese alguma ser outra. Deve ser minha mesmo demorando muito. E deve me amar depois de cinco anos tentando mostrar que tudo que ela precisava e procurava estava a umas quatro filas de carteiras à direita. Sempre esteve.
Ela deve ser forte,como quem chora de medo e tem medo de chorar. Deve me deixar impotente diante da sua força e me deixar irritado com os entraves.
Não pode ter porque , só tem que acontecer e não explicar. Me fazer sentir como a flor, que luta contra a faca e perde.
Pois perdido estou eu . Nos cabelos dela , encaracolados , como no estereótipo capilar dos anjos presente nas nossas constantes construções. Até o seu nome é próprio de anjo.
Deve dever me amar. Mas não. Não me ama por dever. Doravante me ama deveras,severamente visceral.
Deve me dizer que sou mais bonito que o namorado dela. E não deveria saber que me cortava a alma a proferir isto. Quando o que eu mais queria era ser namorado feio. Velejando nas idéias. Valente como leoa. Voz nos meus ouvidos, vórtice voraz , vilipendiando as visitas , varando válvuvas , abrindo vereda no coração vil.
Vilã amada como Alá no ramadã.
A que , sem querer , transforma o Cavalheiro Cínico , retira o Canalha , e reintera o poeta ao lugar que lhe pertence. Presunção minha pensar ser poeta. Mas me pego sendo poeta quando ela me olha, com os olhos de anjo bêbado.
E eu , que gritava o ódio e festejava a raiva de ser um natimorto , voltei à vida depois de morrer algumas vezes.
A dor , meu senhor. Isso era o de menos. Eu me cortava, me queimava com cigarros , a fim de me esquecer da alma sangrando. Só conseguí me marcar pra lembrar do sofrimento.

Mas , é próprio dos anjos serem sagrados. E esta , é irrefutávelmente sacra. Pura , como a cachaça que estereliza as gargantas e endurece as carapaças dos homens vermelhos e opacos da terra rachada.

E , meu senhor, eu peço perdão.

Ao tentar descrever o anjo , falei da mulher suprema. Mas , foda-se.
Ela é o único e mais lindo anjo que eu conheço. E , sinceramente me basta.
Os outros anjos se parecem cada vez mais menores se comparados a Ela.

E , sobre aquela história de os anjos não terem sexo. Isso não é a maior besteira que vocês já ouviram??



Epílogo de Contos Desequilibrados À Alcool e Livros , de Paulo.





Te amo , meu amor que me salvou.

3 comentários:

  1. Acredito muito nisso. O amor resgata e salva - a exemplo do cristo sangrando na cruz de pura paixão, o amor verdadeiro padece e sangra, senao nao seria amor. Mas o melhor de tudo isso é que depois vem a redenção, e ela chegou pra você. Anjos, sabe?

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  2. Puutz! :O
    Que coisa linda!
    É incrível o que os sentimentos fazem com as palavras!

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